Formado em Cinema na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA USP), Marco Dutra é hoje diretor, roteirista e compositor. Durante a faculdade, trabalhou principalmente com o desenvolvimento de curtas metragem e, após graduado, realizou também produções para a TV.
Marco já teve três de seus filmes apresentados no Festival de Cannes, todos co-dirigidos com sua amiga e companheira de trabalho Juliana Rojas. A primeira exibição deles no festival, “O Lençol Branco”, foi o Trabalho de Conclusão Curso realizado na ECA USP.
As suas produções já ganharam o Leopardo de Ouro (principal prêmio do “Festival Internacional de Cinema de Locarno”, na Suíça) e o “Grande Prêmio do Cinema Brasileiro”. Ele também foi roteirista das séries “Alice” (HBO) e “Tudo Que É Sólido Pode Derreter” (TV Cultura) e diretor de “O Hipnotizador” (HBO).
A equipe do Alumni USP entrevistou este ex-aluno da Universidade.
Por que você quis estudar Cinema e quando escolheu a ECA USP?
Minha família me levava ao cinema desde muito pequeno e, quando eu tinha 2 ou 3 anos de idade, meu pai comprou um videocassete e passou a trazer filmes para casa. Então desenvolvi muito cedo uma relação obsessiva, rebobinava algumas produções diversas vezes seguidas. Esse fascínio que tive quando criança me acompanhou ao longo da vida.
Cheguei ao fim do colégio e vi o cinema como uma possibilidade para seguir estudando. Escolhi fazer ECA pois era a faculdade que tinha a grade curricular que mais me transmitia confiança. Entrei na graduação em 1999 e minha turma foi a última a fazer o curso de Cinema separado do de Rádio e TV; hoje os dois foram unificados e se chama Audiovisual.
Qual foi a importância da USP na sua vida?
Ela teve importância absoluta! Antes da graduação eu já gostava de cinema, sabia um pouco sobre o assunto e tinha até brincado com uma câmera VHS. Mas só na USP a ideia de um trabalho profissional se tornou verdade, isso foi um degrau gigantesco. O contato que tive com professores, livros e teorias que não conhecia também foi essencial.
Além de toda essa experiência, a USP me apresentou os meus grandes parceiros da vida: a Juliana Rojas, o Caetano Gotardo e o Daniel Turini. Somos amigos desde 1999 e eles são pessoas com as quais trabalho até hoje. Aprendi muito com eles, realizando trabalhos práticos.
Hoje, também percebo que a graças a USP fui capaz de escolher qual área do cinema gostaria de seguir. Isso porque, no terceiro ano da graduação, havia um exercício que chamado “rodízio”, no qual os alunos da turma cumpriam todas as funções das diferentes etapas de produção de um filme. Foi uma atividade essencial para que eu pudesse entender onde estava o meu real desejo e ter firmeza em minhas escolhas. Essa dinâmica fundamental me ajudou a tomar decisões para o futuro da minha carreira, através dela vi que o que queria mesmo ser era diretor.
A grande maioria dos seus filmes é de terror, você sempre teve vontade de trabalhar com esse gênero?
Filmes que são de um gênero específico sempre me atraíram muito e, mesmo antes da faculdade, eu já tinha interesse em exercitar o “terror”. Foi o que fiz desde o primeiro ano na ECA, desenvolvi muitos trabalhos nesse estilo e eles evoluíram bastante ao longo da graduação. Até o momento em que eu e a Juliana – que sempre compartilhou comigo este gosto – decidimos fazer o nosso TCC juntos. A partir disso surgiu o curta-metragem “O Lençol Branco” que foi lançado em 2004 e selecionado para a mostra Cinéfondation do Festival de Cannes.
Depois de formado, você realizou produções para a Televisão. Em qual veículo gostou mais de trabalhar, TV ou Cinema?
Todos os trabalhos que fiz foram bons, aprendi muito com eles. A TV é uma linguagem diferente, são vários episódios, é possível tratar gêneros distintos, aprofundar as personagens, a história e a estrutura. O cinema não permite isso. Gosto muito dos dois veículos e espero poder continuar envolvido com ambos, mas, claro, minha primeira paixão foi o cinema e eu certamente quero continuar fazendo filmes, é uma coisa que me dá muito prazer.
Como é o trabalho que você desenvolve com composição musical?
Estudei piano desde os 14 anos e mesmo adolescente já brincava de compor algumas coisas. Quando entrei na USP e conheci o Caetano e a Juliana, descobri que eles também gostam de musical e resolvemos levar isso adiante. Essa brincadeira se estendeu para os projetos e hoje já compus canções para vários filmes nossos. Eu amo música, gostaria de poder estudá-la com a mesma intensidade de antes, hoje o tempo é mais restrito. Mas sei que não vou abandonar esse lado nunca e acho que é um privilégio muito grande poder utilizar uma composição minha em um produção cinematográfica.
Dos prêmios que seus trabalhos já ganharam, algum deles foi o mais importante para você?
Prêmios são sempre interessantes, mas não são necessários. Sabemos sabe que ganhar ou perder não está necessariamente relacionado com um filme ser bom ou ruim. É preciso continuar trabalhando, investigando e desenvolvendo nossa arte sem depender da aprovação de alguém para aprofundar o trabalho. Por isso, tendo a não valorizar demais as premiações.
É obvio que ficamos gratos, afinal, quer dizer que alguém gostou de algo que produzimos e é bem legal quando algum dos jurados é uma pessoa que você admira. Por exemplo, no mês passado, o filme que fiz com a Juliana, “As Boas Maneiras”, ganhou o Prêmio Especial do Júri no Festival Internacional de Cinema de Locarno. Esse prêmio é o mais importante do evento e nós tivemos a chance de conversar com o presidente do júri, um diretor francês que eu admiro muitíssimo. Foi maravilhoso!
No que você está trabalhando agora? Possui algum projeto futuro?
Estou desenvolvendo uma série de TV com a Juliana e um filme com o Caetano. Tenho também outros projetos com o Rodrigo Teixeira, que já foi produtor de dois trabalhos meus, e algumas ideias bem embrionárias as quais espero que aconteçam em breve.
Texto: Mariangela Castro